Publicação Quadrimestral, com pelo menos uma edição especial, para disseminação do conhecimento científico/tecnológico interdisciplinar do projeto voltado à sustentabilidade.
“Me formei engenheiro civil na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1983. De lá pra cá trabalhei em todo o tipo de obras civis, residências, construções ecológicas, edifícios residenciais e fábricas.
Adoro viajar…assim na Ásia e Austrália vivenciei o uso do bambu e de materiais naturais na construção civil.
Na Austrália me formei permacultor e conheci ecovilas.
Lá percebi o potencial do bambu como instrumento de mudança. Em 2004, organizei, em Florianópolis,
um grupo de estudos de permacultura e ecovilas. Também realizei um curso de bambu com o Prof. Marco Pereira da Unesp de Bauru. Logo em seguida surgiu a BambuSC, e também nessa época iniciei o plantio do bambu no Sítio Vagalume em Rancho Queimado.
Anos depois estive, por dois meses, num curso do Centro de Pesquisas de Bambu da China (CBRC), onde pude visitar plantações de bambu e fábricas constituintes da cadeia produtiva do bambu.”
“O Sítio Vagalume é uma área de 10 hectares na serra catarinense. Inicialmente era um local de refúgio de um grupo de amigos. Após minha estada na Austrália e Nova Zelândia comprei a parte de meus parceiros e me dediquei a implantar um sistema permacultural baseado no reflorestamento com bambu, árvores nativas e frutíferas. Iniciei o plantio de bambus em 2003 e hoje temos mais de 200 touceiras de 9 espécies exóticas, além de várias espécies nativas originais da mata preservada.
Organizamos cursos e vivências de plantio, produção e venda de mudas, colheita e manejo de bambus além de colheita e preparo de brotos de bambu comestíveis em conserva. Os vizinhos que se interessam participam gratuitamente das atividades e ganham mudas para plantar em suas propriedades. Gosto de experimentar novas técnicas de produção de mudas e novos formatos de bambu, como bambu quadrado.”
“O bambu tem inúmeros usos potenciais, desde proteção de encostas contra erosão, produção de fibras e cavacos, carvão, alimentos como farinha e brotos comestíveis, além de substituir a madeira em todos os seus usos. No Brasil a cadeia produtiva ainda está em formação e não existem grandes plantios que permitam usos industriais.Associações como a BambuSC estão se organizando pelo país e também o governo está se interessando pelo cultivo e uso do bambu como fonte de trabalho e renda.Foram criadas leis de incentivo pelo governo federal e algumas cidades já têm suas próprias leis de incentivo. A BambuSC está trabalhando para que Florianópolis e Santa Catarina sejam pioneiros nessa consciência e apoio por parte das autoridades e instituições públicas como a Epagri.”
“Construção com bambu no Brasil foi sempre coisa alternativa, sem normas e feita apenas com conhecimentos empíricos ou trazidos de outras culturas. Os métodos de tratamento também não são normalizados.
Recentemente a ABNT produziu a norma brasileira de estruturas de bambu, que no momento está em fase de consulta pública. Assim, em breve teremos normas brasileiras para dar as garantias técnicas necessárias para que o uso do bambu na construção civil seja feito com rigor e competência. Além do problema da falta de normas, existe a falta do plantio em grande escala que permitam a execução de grandes obras e usos
mais diversificados com qualidade e garantia.”
“Vejo com preocupação a difusão de métodos alternativos sem base teórica ou estudos locais para validá-los. Normalmente são usados por pessoas de baixa renda sem acesso aos materiais nobres e utilizando conhecimento ancestral ou métodos empíricos.
Considero essencial o papel da universidade na pesquisa e divulgação desses técnicas com suas
características e peculiaridades.”
“Imagino o cidadão educado e consciente, o uso materiais renováveis, a produção de alimento incorporada
ao dia a dia das cidades, o lixo zero. A prioridade seria para a qualidade de vida….um sonho???”
“Inovação! Muita pesquisa e compartilhamento de informações e experiências. Educando as pessoas para a importância do bem comum que gera o bem individual.”
“Agora com normas da ABNT, o uso do bambu como material de construção deve se popularizar no Brasil, formando a cadeia produtiva e criando condições para outros usos inovadores e sustentáveis.”
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