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Revista Mix Sustentável UFSC

Publicação Quadrimestral, com pelo menos uma edição especial, para disseminação do conhecimento científico/tecnológico interdisciplinar do projeto voltado à sustentabilidade.

Mix Sustentável | Florianópolis | v.5 | n.2 | p.177-178 | jun. | 2019
Poderia resumir sua formação e descobertas relevantes em sua trajetória que lhe conduziram ao cultivo do bambu? Que caminhos percorreu até chegar à BAMBU-SC?

“Me formei engenheiro civil na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1983. De lá pra cá trabalhei em todo o tipo de obras civis, residências, construções ecológicas, edifícios residenciais e fábricas.
Adoro viajar…assim na Ásia e Austrália vivenciei o uso do bambu e de materiais naturais na construção civil.
Na Austrália me formei permacultor e conheci ecovilas.
Lá percebi o potencial do bambu como instrumento de mudança. Em 2004, organizei, em Florianópolis,
um grupo de estudos de permacultura e ecovilas. Também realizei um curso de bambu com o Prof. Marco Pereira da Unesp de Bauru. Logo em seguida surgiu a BambuSC, e também nessa época iniciei o plantio do bambu no Sítio Vagalume em Rancho Queimado.

Anos depois estive, por dois meses, num curso do Centro de Pesquisas de Bambu da China (CBRC), onde pude visitar plantações de bambu e fábricas constituintes da cadeia produtiva do bambu.”

O que é o Sítio Vagalume? Que atividades utilizando o bambu são realizadas neste espaço? (espécies cultivadas, perspectivas de comercialização, vivências proporcionadas ao público, experimentos realizados)

“O Sítio Vagalume é uma área de 10 hectares na serra catarinense. Inicialmente era um local de refúgio de um grupo de amigos. Após minha estada na Austrália e Nova Zelândia comprei a parte de meus parceiros e me dediquei a implantar um sistema permacultural baseado no reflorestamento com bambu, árvores nativas e frutíferas. Iniciei o plantio de bambus em 2003 e hoje temos mais de 200 touceiras de 9 espécies exóticas, além de várias espécies nativas originais da mata preservada.
Organizamos cursos e vivências de plantio, produção e venda de mudas, colheita e manejo de bambus além de colheita e preparo de brotos de bambu comestíveis em conserva. Os vizinhos que se interessam participam gratuitamente das atividades e ganham mudas para plantar em suas propriedades. Gosto de experimentar novas técnicas de produção de mudas e novos formatos de bambu, como bambu quadrado.”

Quais os usos potenciais para o bambu brasileiro?

“O bambu tem inúmeros usos potenciais, desde proteção de encostas contra erosão, produção de fibras e cavacos, carvão, alimentos como farinha e brotos comestíveis, além de substituir a madeira em todos os seus usos. No Brasil a cadeia produtiva ainda está em formação e não existem grandes plantios que permitam usos industriais.Associações como a BambuSC estão se organizando pelo país e também o governo está se interessando pelo cultivo e uso do bambu como fonte de trabalho e renda.Foram criadas leis de incentivo pelo governo federal e algumas cidades já têm suas próprias leis de incentivo. A BambuSC está trabalhando para que Florianópolis e Santa Catarina sejam pioneiros nessa consciência e apoio por parte das autoridades e instituições públicas como a Epagri.”

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Como percebe a evolução da construção com bambu no Brasil? Quais as perspectivas de desenvolvimento da cadeia produtiva deste material no Brasil? Percebe algum entrave nestas perspectivas?

“Construção com bambu no Brasil foi sempre coisa alternativa, sem normas e feita apenas com conhecimentos empíricos ou trazidos de outras culturas. Os métodos de tratamento também não são normalizados.
Recentemente a ABNT produziu a norma brasileira de estruturas de bambu, que no momento está em fase de consulta pública. Assim, em breve teremos normas brasileiras para dar as garantias técnicas necessárias para que o uso do bambu na construção civil seja feito com rigor e competência. Além do problema da falta de normas, existe a falta do plantio em grande escala que permitam a execução de grandes obras e usos
mais diversificados com qualidade e garantia.”

Como vê o papel das técnicas construtivas a partir de materiais alternativos, muitas delas ainda não normatizadas, na construção em grande escala ou nas edificações em altura?

“Vejo com preocupação a difusão de métodos alternativos sem base teórica ou estudos locais para validá-los. Normalmente são usados por pessoas de baixa renda sem acesso aos materiais nobres e utilizando conhecimento ancestral ou métodos empíricos.
Considero essencial o papel da universidade na pesquisa e divulgação desses técnicas com suas
características e peculiaridades.”

Como imagina um edifício e uma cidade sustentável?

“Imagino o cidadão educado e consciente, o uso materiais renováveis, a produção de alimento incorporada
ao dia a dia das cidades, o lixo zero. A prioridade seria para a qualidade de vida….um sonho???”

Como os profissionais da construção (pesquisadores, projetistas e empreendedores) podem transpor a distância entre o que planejam em termos de sustentabilidade e o que efetivamente conseguem implementar?

“Inovação! Muita pesquisa e compartilhamento de informações e experiências. Educando as pessoas para a importância do bem comum que gera o bem individual.”

Que mensagem poderia deixar para os profissionais da área, sobre o emprego do bambu?

“Agora com normas da ABNT, o uso do bambu como material de construção deve se popularizar no Brasil, formando a cadeia produtiva e criando condições para outros usos inovadores e sustentáveis.”